Perturbada com o movimento das pessoas ao redor, tomou num gole só o café que lhe desceu quente e grosso pela garganta - queimando a língua e pelando o estômgo. Mas pensou consigo que merecia aquela dor, que merecia o amargo do café pois assim se sentia amarga, e a dor da queimadura apenas trazia à tona sua dor interna.
Esperou a chuva acalmar na esperança de que seus pensamentos em turbilhão acalmassem junto. Ouvia o barulho forte dos pingos batendo no chão, sentia a fúria da água. Sentia sua própria fúria. Os pensamentos tomavam conta, não davam-lhe paz! Queriam sair dela, domar o mundo.
Num rompante, abriu o guarda-chuva já torto pelas rajadas de vento e encarou o temporal novamente. Foi para debaixo daquela cortina de água avassaladora. Sabia que somente isso a libertaria. Seu guarda-chuva foi engolido pelos céus; molhou-se por inteiro num segundo, chovia aos cântaros. A água batia em sua pele dolorosamente, o vento contra si era tamanho que quase não mantinha os olhos abertos. Determinada, andou até a estação e decidiu pegar outro rumo que não o de casa.
Não sabia exatamente para onde. Fechou os olhos e apontou para um tópico do mapa, seguiu. Entrou no trem encharcada, sem saber ao certo o que fazia, nem seus propósitos. Mas preferiu não pensar - o turbilhão em sua mente cessara.
Sabia apenas que a vida tem suas própria razões, que leva para caminhos desconhecidos por motivos que não se entende. E talvez, o próximo destino lhe reservasse um café menos amargo e uma chuva mais amena.
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